A escoliose é uma alteração da coluna que surge por diversas origens e em qualquer idade. Pode aparecer ao nascimento(congênita), durante o desenvolvimento e no processo de envelhecimento(degenerativa). Acomete principalmente o sexo feminino, com forte característica hereditária, representando fonte de preocupação para familiares e o médico, podendo causar grande prejuízo funcional e estético.
O teste de adams ou de inclinação é uma maneira simples de realizar o diagnóstico, onde ocorre a formação de uma gibosidade na presença da doença.
As escolioses geralmente são tratadas de maneira conservadora com avaliações médicas e exames de imagens periódicos, uso de coletes(necessitam indicação e avaliação de especialista, pois também possuem contra indicações), exercício físico assistido, rpg, fisioterapia e outras técnicas.
Uma pequena parte dos pacientes evolui com necessidade de cirurgia corretiva. A cirúrgia da escoliose, diferentemente de há alguns anos, já pode ser realizada com bons graus de correção, maior segurança, menor tempo de hospitalização e retorno precoce à vida independente. Tudo isto devido aos cuidados pré operatórios, avanço nos instrumentais cirúrgicos, monitorização eletrofisiológica trans operatória, equipes preparadas para o procedimento e bons hospitais.
Entendendo a escoliose:
Escoliose é um desvio tridimensional da coluna, sendo que seu formato lembra o de uma escada em espiral. A gibosidade é formada pela proeminência dos arcos costais no movimento rotacional da escoliose. A escoliose não está relacionada a alterações posturais e por exemplo o uso de mochilas pesadas na escola. Dentro das alterações esperadas na escoliose estão a diferença na altura dos ombros, assimetrias de seios, gibosidade ou corcunda dorsal ou lombar. A linha da cintura é mais aberta na concavidade da escoliose(triângulo de talhe). Um quadril pode ser mais alto que o outro e pode haver diferença de comprimento de membros inferiores. “a dor geralmente não está presente na escoliose e a sua presença merece atenção e pesquisa de outras fontes de dor”.
Cerca de 80% das escolioses são de causa desconhecida ou “idiopáticas”. Algumas escolioses apresentam deformidades na formação das vértebras ou sua segmentação e são ditas “ congênitas”, sendo que existem aínda vários outros tipos de escoliose, ligados a doenças neuromusculares e pós traumáticas por exemplo.
Entendendo a escoliose idiopática (80%)
A escoliose idiopática pode aparecer logo nos primeiros anos de vida mas geralmente é vizualizada no início da puberdade, por volta dos 10 anos de idade e atinge seu período máximo de deformação entre os 10 e 14 anos, que coincide com o estirão de crescimento. Na menina, a escoliose evolui normalmente até 2 anos após a menarca(primeira menstruação), sendo este um parâmetro importante a ser observado. Meninos e meninas podem ter escoliose, porém, quando em meninas o potencial de maior gravidade das curvas é sempre levado em consideração no tratamento. No menino, a mudança no timbre de voz e o aparecimento de pêlos pubianos são o sinal para cuidados maiores..
Sabemos e temos vários métodos para indicarmos aos pais se a curva escoliótica tem maior ou menor grau de correção, assim como a hora certa de usar ou não um colete, sempre sabendo que coletes não melhoram escoliose e sim tem como objetivo a tentativa de bloquear a evolução de uma curva progressiva.
Pensando em cirurgia…
Já sabemos que algumas curvas progridem mais que outras, mesmo com os tratamentos indicados e o uso de colete. Curvas maiores do que 40-50 graus tendem a progredir mesmo após o final do crescimento e é após curvas alcançarem estas magnitudes que geralmente são indicados os tratamentos cirúrgicos.
As principais indicações e objetivod de uma cirurgia são prevenir problemas cardiológicos, respiratórios e neurológicos, reduzir e bloquear a evolução de uma curva e melhorar a estética e qualidade de vida dos pacientes. Geralmente não reduzimos totalmente as curvas sendo reduções ao redor de 50% a 70% consideradas satisfatórias.
São inseridos implantes metálicos com o objetivo de realinhar e reduzir a magnitude das curvaturas. Pode haver necessidade de correção da gibosidade atravéz de uma ressecção parcial de costela(s).
Pré operatório
Em nosso serviço reralizamos de rotina a consulta pré anestésica em consultório, sempre com a presença dos pais , sendo esta indispensável para a realização de uma cirurgia com maior segurança. Nesta consulta o paciente é informado sobre a anestesia e lhe são solicitados exames pré operatórios. É nesta consulta que o paciente fica sabendo o dia da internação, hora de chegada ao hospital e cuidados como jejum , uso de medicações de rotina, banho pré operatório, retirada de esmalte das unhas, evitar uso de perfumes ou cremes e maquiagem. Lentes de contato não devem ser utilizadas durante a internação, leve seus óculos.
No bloco cirúrgico
O paciente é recebido pela equipe anestésica e cirúrgica, sendo caso a caso solicitado o acompanhamento de um familiar até o momento da anestesia.. É efetuada a anestesia e posicionamento do paciente. Neste momento entra em ação (se em uso) o médico neurofisiologista , que fará o acompanhamento e montagem do equipamento de monitorização neurofisiológica trans operatória, que para a maioria dos casos traz uma segurança extra na prevenção de lesões neurológicas trans operatórias.
Após a realização da cirurgia om paciente é encaminhado a sala de recuperação ou cti póps operatória , dependendo da extensão da cirurgia e indicação do anestesista e cirurgião.
Complicações cirúrgicas
Todo e qualquer procedimento cirúrgico, seja na coluna ou em outros órgãos não está isento de complicações. Uma boa preparação pré operatória, bom hospital, bom material cirúrgico e equipe multidisciplinar treinada são pré requisitos que levam a uma cirurgia com menores índices de complicações. A maioria das complicações tem resolução e é inerente ao tratamento. Nossos índices de complicações estão dentro de padrões considerados normais quando comparados com a literatura no assunto.
Problemas neurológicos: giram em torno de 0,7%, sendo que a maioria das lesões são reverssíveis . Dentre as causas estão compressão de medula espinhal ou nervos por implantes metálicos, hematoma epidural, correção excessiva de deformidades.
Hemorrágia: cerca de 3% das cirurgias podem ter sangramento excessivo e necessitar de transfusão sanguinea. .
Problemas respiratórios: nas cirurgias via anterior pode haver dificuldade de expansãom pulmonar. Pneumonias podem também acintecer no pós op. Exercícios respiratórios são a melhor forma de prevenção já no primeiro pós op.
Intestinos: vômitos e náuseas são comuns no pós op. Imediato e são manejados com medicações. Algunas pacientes tem maior dificuldade para recuperar o funcionamento normal dos intestinos após cirurgia. Controle de alimentos e ingesta de laxativos podem ser necessários
.
Infecção: quanto mais complexa e demorada a cirurgia maior é a perda sanguinea, tempo de anestesia e exposição do corpo , aumentando o risco de infecções. Isto torna a infecção uma das complicações mais comuns na cirurgia da coluna, variando de 1% a 5% dependendo da literatura estudada.. Idade avançada, desnutrição, obesidade, uso de corticóides, imunossupressão, diabetes ou infecções em outros locais do corpo pré existentes são fatores de risco.
Problemas circulatórios: tromboflebites são raras mas podem acontecer e a mobilização precoce ajuda a prevenção, assim como medicações específicas.
Problemas cardíacos são raros e geralmente detectados no exame pré anestésico.
Pós operatório
Ao sair do centro cirúrgico o paciente experimenta as sensações pós anestésicas e é natural que sinta alguma dor. Medicações no intúito de diminuir os desconfortos estão prescritos pela equipe médica e serão aplicados pela equipe de enfermagem. Edema nas mãos, face e membros inferiores podem demorar até 3 dias para desaparecer. O paciente permanecerá com acesso venoso até que não sejam mais medicações pela veia e estará sondado se for o caso, para minimizar desconforto. Antibióticos adequados são administrados por 48 horas ou mais se tornar-se necessário e a sonda vesical geralmente é retirada com 48 h de pós operatório. Curativos cirúrgicos geralmente são trocados diariamente por seu médico ou equipe de enfermagem drenos também são retirados no segundo dia de pós operatório. O primeiro curativo geralmente é efetuado no segundo dia de pós operatório.
Mobilização do paciente na cama geralmente é liberada conforme o conforto e a dor do mesmo e a saída da cama acontece após a retirada dos drenos ( 48 h). Fisioterapia é realizada motora e respiratória desde o primeiro dia de pós operatório.
Alta hospitalar pode acontecer a partir do quinto dia de cirurgia, sendo cada caso avaliado individualmente pela equipe.
Todos os pacientes são acompanhados por uma equipe multidisciplinar desde o pré operatório, durante a internação e na recuperação pós operatória, composta por cirurgião ortopédico, cirurgião ortopédico auxiliar, neurocirurgião, clinico geral, fisoterapeuta, equipe de enfermagem, e neurofisiologista. Outros profissionais podem ser chamados a dar sua colaboração se necessário.
Dúvidas quanto a recuperação
Banhos de chuveiro geralmente já podem ser tomados a partir do terceiro dia pós cirurgia.
Não exponha a cicatriz ao sol durante os primeiros meses. Use protetor solar sobre ela. Cremes com vitamina e podem ser prescritos por dermatologistas. Sensações ruins ao redor da cicatriz geralmente desaparecem nos primeiros meses.
Coma fontes de fibras e tome bastante água para auxiliar seu intestino a funcionar normalmente.
Caminhadas são permitidas e incentivadas precocemente.
30 dias sem dirigir, escola ou trabalho são o mínimo exigido. Cada caso deve ser avaliado em separado.
Ciclo menstrual pode ser alterado por stress pós operatório.
Pontos são retirados em volta do 15 dias pos operatório.
Rx de controle são efetuados para avaliação da consolidação da cirurgia e ausência de complicações tardias como pseudoartrose (não consolidação de enxerto) e quebra ou afrouxamento de material de síntese.
Coletes são usados no pós operatório somente em casos específicos.
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